Safra 2024/25: recorde à vista; clima em observação

Com projeção de 332,9 milhões de toneladas para 2024/25, o novo boletim da Conab mostra safra recorde impulsionada por tecnologia e clima favorável; especialistas do Inmet alertam que o quadro neutro do ENOS exige atenção a veranicos regionais.

Arroz, CONAB, soja
O arroz, pilar da dieta nacional, ocupa posição estratégica nas lavouras irrigadas brasileiras, garantindo segurança alimentar e contribuindo decisivamente para o saldo agrícola do país.

A nova edição do Boletim de Acompanhamento da Safra Brasileira de Grãos da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) confirma que o campo brasileiro segue batendo marcas históricas.

O oitavo levantamento da temporada 2024/25 projeta uma produção de 332,9 milhões de toneladas, salto de 11,9 % sobre o ciclo anterior, colhidas em 81,7 milhões de hectares, área 2,2 % maior que a do ano ado.

Esses números dão o tom otimista do setor. Soja, milho e arroz, base do agronegócio e da alimentação nacional, puxam o crescimento com 168,3 Mt, 126,9 Mt e 12,1 Mt, respectivamente. A análise conta com a participação do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), responsáveis por monitorar o clima que influencia diretamente o resultado nas lavouras.

Retrato da produção nacional

A safra 2024/25 consolida o Brasil como um dos principais celeiros globais. A soja, cultivada em 47,6 Mha, registra aumento de área e produtividade graças ao avanço de práticas como o plantio direto e cultivares de ciclo curto. No milho, a chamada “safrinha” responde por 79 % do volume total e se beneficia do bom manejo pós-colheita da oleaginosa. Arroz e feijão também ensaiam recuperação após temporadas marcadas por estiagens, reforçando a segurança alimentar interna.

soja, arroz
Soja, carro-chefe do agronegócio brasileiro, cobre 47,6 milhões de hectares, gera divisas recordes e prepara o solo para a lucrativa safrinha de milho.

Além das culturas líderes, algodão (3,9 Mt de pluma) e trigo (8,25 Mt) ampliam a diversificação do portfólio agrícola. A Conab destaca que parte desse desempenho se deve ao esforço de instituições públicas de pesquisa, como a Embrapa, e a programas estaduais de apoio ao crédito rural que estimulam a adoção de tecnologia no campo.

Clima, tecnologia e gestão de risco

As condições meteorológicas de abril foram determinantes: chuvas acima de 150 mm garantiram umidade do solo no Norte, enquanto o interior do Nordeste enfrentou déficit hídrico. A transição da La Niña para a neutralidade oceânica, com 80 % de probabilidade para o trimestre maio-junho-julho, tende a reduzir extremos, mas exige vigilância.

Principais fatores acompanhados por produtores e pesquisadores:

  • Monitoramento in loco por imagens NDVI, incorporado pela Conab para detectar estresse hídrico.
  • Previsões de curto prazo do Inmet, fundamentais para decidir entre irrigar ou aguardar precipitação.
  • Variedades resistentes desenvolvidas pela Embrapa, que mitigam perdas em veranicos.

Apesar dos avanços, persiste o desafio de integrar dados climáticos em tempo real às decisões de manejo, sobretudo para pequenos e médios agricultores que têm menos o a ferramentas digitais.

Perspectivas e impactos socioeconômicos

Se o cenário climático projetado se confirmar, o país poderá superar a marca simbólica de 330 Mt com folga e ampliar exportações, principalmente de soja e algodão. A entrada de divisas fortalece a balança comercial e sustenta cadeias de valor ligadas à logística, armazenagem e indústria de insumos. Entretanto, o mesmo volume recorde acirra debates sobre infraestrutura: gargalos em estradas e portos podem limitar ganhos de competitividade se não houver investimentos compatíveis.

Do ponto de vista ambiental, a tendência de intensificação produtiva em áreas já consolidadas é positiva por reduzir a pressão por novos desmatamentos; mas exige políticas robustas de recuperação de solo e de gestão de resíduos agrícolas.

Universidades federais, como a UFV e a UFLA, colaboram em estudos sobre rotação de culturas e plantio em bases agroecológicas, fornecendo conhecimento para uma produção mais sustentável.

Ao final, a safra recorde de 2024/25 reforça a relevância do Brasil no abastecimento mundial e cria uma oportunidade estratégica: equilibrar crescimento econômico com inovação climática, garantindo alimentos, emprego e conservação para as próximas gerações.

Referência da notícia

Acompanhamento da safra brasileira de grãos: Safra 2024/25 (Vol. 12, No. 8, 8º levantamento). 15 de maio, 2025. Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB).