O Brasil, que possui a maior diversidade de anfíbios do mundo, com cerca de 1.200 espécies distribuídas principalmente nos biomas Amazônia e Mata Atlântica, enfrenta uma grave ameaça devido ao aumento dos períodos de seca. Esses animais, como sapos, rãs e pererecas, dependem de ambientes úmidos e aquáticos para sobreviver, e a escassez de água pode resultar em desidratação rápida, levando à morte.
A pele dos anfíbios, fina e permeável, é particularmente vulnerável ao ar seco. Diferentemente de outros animais, como répteis e aves, que possuem mecanismos de proteção contra a perda de água, os anfíbios não conseguem se expor ao calor por muito tempo, tornando-os extremamente sensíveis às alterações climáticas. Pesquisadores, liderados pelo biólogo Nicholas Wu, da Western Sydney University, mapeiam os impactos do aquecimento global sobre os habitats desses animais.
Segundo seu estudo, publicado na revista Nature Climate Change, até 33% dos habitats dos anuros (grupo que inclui sapos e rãs) podem se tornar mais áridos até 2100. Em um cenário de aumento de 4 ºC na temperatura global, 36% desses locais sofrerão secas mais longas, com períodos de seca aumentando em até quatro meses por ano.
A pesquisa revela que o aumento das secas reduzirá significativamente o tempo de atividade dos anuros, afetando sua capacidade de forragear, se reproduzir e encontrar alimento. No Brasil, especialmente, biólogos já observam mudanças no comportamento desses animais. Rafael Bovo, pesquisador da Universidade da Califórnia, destaca que, nos últimos anos, a estação de chuvas e a maior atividade dos anfíbios estão chegando mais tarde, diminuindo o tempo disponível para o desenvolvimento e a reprodução.
Além da mudança nos padrões climáticos, o estudo aponta a grande preocupação com as áreas da Mata Atlântica e do sul da Amazônia, que abrigam espécies endêmicas, como o sapinho-pingo-de-ouro e a perereca-flautinha, que não são encontradas em nenhum outro lugar do mundo. A combinação de desmatamento histórico e o agravamento das secas coloca esses animais em risco iminente de extinção.
Em particular, a região do Arco do Desmatamento, na Amazônia, enfrenta uma crescente pressão de atividades agropecuárias, o que intensifica o impacto das mudanças climáticas.
Anfíbios desempenham papéis essenciais nos ecossistemas, como controle de populações de insetos e a ciclagem de nutrientes. Dada a velocidade do aquecimento global, muitos desses animais estão em risco de extinção, pois não têm tempo suficiente para se adaptar às novas condições. O estudo sugere que, embora alguns anfíbios possam desenvolver adaptações, como a produção de ceras na pele para resistir à desidratação, a taxa de aquecimento atual é maior do que sua capacidade de evolução.
Os pesquisadores alertam que é urgente a adoção de políticas públicas de conservação para proteger essas espécies antes que seja tarde demais. Restaurar florestas e preservar habitats naturais podem oferecer microclimas que ajudem os anfíbios a sobreviver em um mundo cada vez mais quente e seco. A pesquisa também destaca a importância de investigar como algumas espécies são mais resilientes do que outras para entender as chances de sobrevivência desses animais diante das mudanças climáticas.
O estudo reforça a necessidade de uma abordagem mais abrangente sobre as mudanças climáticas, considerando não apenas o aumento de temperatura, mas também os efeitos combinados de calor e seca, que impactam de maneira significativa a sobrevivência dos anfíbios.
UOL Ecoa. Aumento de períodos prolongados de seca ameaça anfíbios brasileiros. 2025