The Last of Us: Segunda temporada está mais realista, e casos similares podem de fato acontecer no mundo real

A nova temporada de The Last of Us acerta ao mostrar fungos como uma ameaça crescente, e infelizmente muitos dos elementos apresentados na história possuem embasamento científico e podem se tornar realidade.

Cena de The Last of Us, série da HBO.
The Last of Us acerta em diversos elementos apresentados na história, que possuem embasamento científico e podem de fato acontecer no mundo real. (imagem: HBO)

A famosa série The Last of Us, que é baseada em um videogame de mesmo nome, está prestes a retornar no dia 13 de abril. Uma das mudanças que podemos observar nos últimos trailers é de que o fungo “zumbi” cordyceps está infectando humanos por esporos no ar, e não mais através de tentáculos.

Isso se aproxima muito mais da realidade científica do que tentáculos. Várias doenças fúngicas reais, como a meningite causada por Cryptococcus neoformans, são transmitidas para os seres humanos através da inalação de esporos.

Na vida real, o cordyceps é inofensivo e até mesmo comestível. No entanto, na série, ele evoluiu para um fungo perigoso devido ao aquecimento global. E, de acordo com um artigo publicado recentemente na revista Nature, o clima em aquecimento pode de fato favorecer a disseminação de fungos patogênicos. Será que The Last of Us pode virar realidade?

O que é realidade em The Last of Us

O cordyceps é um gênero de fungos que geralmente infecta insetos. O exemplo mais citado é o de espécies que colonizam formigas, controlam seus comportamentos e as fazem subir em galhos antes de liberar esporos – reiniciando o ciclo de infecção. Ou seja, o fungo manipula o comportamento do hospedeiro para se espalhar.

Fungo zumbi Ophiocordyceps albacongiuae em uma formiga posicionada na borda de uma folha.
Fungo zumbi Ophiocordyceps albacongiuae em uma formiga posicionada na borda de uma folha. A captura dessa iamgem foi realizada na porção da floresta amazônica localizada na Colômbia.

Além disso, a infecção por inalação de esporos é de fato a via mais comum de infecção – tanto em humanos quanto em plantas. Além do citado Cryptococcus neoformans, que pode causar meningite em pessoas com imunidade comprometida, há também outros como o Aspergillus fumigatus, que se espalha e causa doenças da mesma maneira.

Além disso, fungos podem ser capazes de alterar o comportamento humano, embora não de maneira tão drástica quando o mostrado na série. O Neoformans, por exemplo, pode afetar visão, audição e movimentos devido aos danos causados ao cérebro, mas ainda está muito longe de transformar pessoas em zumbis.

O aquecimento global pode criar fungos perigosos

A parte mais assustadoramente real da série é o fato de que as mudanças climáticas podem, de fato, levar ao surgimento de fungos extremamente perigosos para os seres humanos em um futuro que não está tão distante assim de nós.

Colônias de fungos sendo cultivadas sobre bancada de laboratório.
Colônias de Ustilago maydis e Cryptococcus neoformans (fungos nocivos), colônias fúngicas aleatórias de amostras de ar e o fungo laranja Neurospora crassa. (imagem: Alex Walls)

Para entender o porque disso, precisamos entender que a maioria dos fungos não sobrevive à temperatura do corpo humano. O fato do nosso corpo atingir temperaturas em torno dos 37ºC é por si só uma proteção natural contra a maioria dos fungos nocivos.

No entanto, com o aumento das temperaturas globais, alguns fungos podem aprender a se adaptar rapidamente a temperaturas maiores do que o normal. E isso significa que alguns fungos que antes eram inofensivos para nós podem acabar se tornando patógenos. Não se descarta a possibilidade de epidemias ou pandemias relacionadas a fungos.

É possível desenvolver imunidade aos fungos?

Infelizmente, a imunidade a fungos é muito mais complexa do que ocorre com outras doenças. No entanto, já existem vacinas promissoras contra três fungos patogênicos em desenvolvimento, embora ainda não estejam sendo comercializadas. Portanto, embora ainda não sejam uma realidade, isso é algo plausível para o futuro.

Vale notar, no entanto, que nem todos os fungos são nocivos aos seres humanos. Muitos são comestíveis e nos prestam enormes benefícios: atuam como sumidouros de carbono, decompõem matéria orgânica e têm aplicações extremamente importantes em agricultura, sustentabilidade, tecnologia e mais.

Referência da notícia:

Fungal impacts on Earth’s ecosystems. Nature 638, 49–57 (2025). Case, N.T., Gurr, S.J., Fisher, M.C. et al.