No coração das imponentes paisagens da fronteira entre o Chile e a Argentina, perto do Paso Sico e entre as famosas zonas da Quebrada de Humahuaca e o Salar de Atacama, encontra-se um dos vulcões mais excecionais e enigmáticos do mundo: o Cerro de El Laco.
Este vulcão tem intrigado os cientistas desde que o Professor Charles Park, da Universidade de Stanford, descobriu os restos de fluxos de lava vulcânica formados por magnetites na década de 1950. A raridade e o mistério que rodeiam este fenômeno geológico geraram um debate apaixonado na comunidade científica.
A descoberta deste vulcão numa zona remota dos Andes foi um acontecimento importante para a geologia. Era a prova que faltava para apoiar a teoria avançada pelo geólogo sueco Geiger em 1910, segundo a qual as antigas rochas extraídas na mina de Kiruna, na Lapônia, eram formadas pela cristalização de um magma desconhecido.
Estos cuerpos de magnetita son únicos a escala mundial y actualmente hay un gran debate sobre su origen. Están enraizados en unos diques de composición similar y cubiertos por hematites de posible origen piroclástico. pic.twitter.com/WAqUYzABRL
— IGEO (CSIC-UCM) (@IGeociencias) July 17, 2023
A magnetite é uma importante fonte de ferro e um mineral que raramente é encontrado em quantidades tão elevadas como em Kiruna ou El Laco, pelo que a formação destas rochas tem sido objeto de um intenso debate científico. E, durante mais de 60 anos, não se chegou a um consenso unânime sobre a sua origem.
À primeira vista, os sinais das escoadas lávicas de El Laco não são invulgares em comparação com outros vulcões, com a lava a descer pela encosta, seguindo um caminho caprichoso e de cor escura. Mas as rochas circundantes não são tão convencionais: são formadas por magnetites. Como é que se sabe isto? Escutando. Quando se bate nelas com algo metálico, como um martelo, ouve-se o som metálico. Mas o mistério é o que é que tanto ferro está a fazer ali.
Foram avançadas várias hipóteses. Uma delas propõe que a magnetite pode ter sido formada pela água das salinas que, aquecida pela atividade magmática, extraiu o ferro das rochas vulcânicas e o depositou à superfície. Outra teoria sugere que o ferro pode ter sido transportado por água quente das profundezas do vulcão. No entanto, todas as evidências sugerem que a magnetite é apenas um tipo de lava muito invulgar.
E qual é o problema? Até agora, ninguém viu esta substância na Terra, mas os investigadores acreditam que é comum noutros planetas, como Marte.
De acordo com um artigo publicado no The Conversation, esta nova teoria de uma lava diferente de todas as outras abre novas questões para a comunidade geológica. A primeira é como é que a lava derrete. Partindo do princípio de que El Laco teve de facto fluxos de lava vulcânica de magnetite, que precisa de cerca de 1590°C para derreter, como é que o fez se não ultraa os 1300°C à superfície.
Por outro lado, os especialistas em altos-fornos sabem que a adição de elementos como o fósforo ou o flúor ao ferro pode reduzir drasticamente a temperatura de fusão, aproximando-se dos 700°C, uma temperatura mais comum nos vulcões. Esta pode ser uma explicação possível, mas coloca-se a questão: de onde vêm estes componentes relativamente raros?
A origem desta lava continua a ser um enigma para a ciência e o facto de existirem tão poucos locais no mundo com esta caraterística torna o mistério ainda maior. El Laco é, sem dúvida, um dos vulcões mais raros e cativantes do mundo, e o seu estudo é um desafio fascinante para os cientistas que procuram desvendar os segredos geológicos do nosso planeta.