No ano 1901, exatamente há 120 anos atrás, mergulhadores caçavam esponjas do mar nos arredores da ilha Anticítera, no Mar Egeu, quando descobriram os restos de um navio no fundo do mar. Tratava-se de um naufrágio da era romana, que continha entre seus achados um mecanismo inexplicavelmente complexo.
Conhecido como Mecanismo de Anticítera (ou Antikythera), o objeto foi encontrado aos pedaços. No entanto, análises posteriores mostraram que a máquina era composta por uma série de engrenagens altamente avançadas construídas pelos gregos, o que não bate de maneira alguma com o que sabemos sobre a tecnologia da época.
Desde então, gerações de cientistas se maravilharam com sua tecnologia impressionante, e conspiracionistas defenderam a ideia de que a máquina tinha origens alienígenas, dada sua tamanha complexidade e precisão. O mecanismo é hoje considerado o primeiro computador analógico do mundo, e durante um milênio nenhuma outra civilização foi capaz de construir algo tão avançado.
The Antikythera Mechanism was found in an ancient shipwreck a century ago, with 2/3 of its parts missing. Using CT scans & computer modeling, researchers have finally solved the puzzle of how it worked. The full paper:https://t.co/DMwx7qq3QT pic.twitter.com/zMQSkawO
— Corey S. Powell (@coreyspowell) March 14, 2021
O fato de que os gregos conseguiram construir uma calculadora astronômica altamente sofisticada antes mesmo do nascimento de Jesus é no mínimo intrigante. O dispositivo era capaz de mostrar os movimentos dos planetas e do Sol, as fases do calendário lunar, a posição das constelações do Zodíaco e até mesmo a data de eventos atléticos, como os antigos Jogos Olímpicos.
Embora diversas questões sobre o mecanismo ainda continuem sem respostas, cientistas da University College London (UCL) apresentaram, pela primeira vez, um modelo reconstruído que corresponde a todos os dados e culmina em uma exibição elegante do antigo cosmos grego.
O estudo demandou um esforço gigantesco dos cientistas, pois apenas um terço da máquina sobreviveu aos milênios que ou no fundo do mar. Os seus restos incluem 82 fragmentos, alguns dos quais contêm engrenagens complexas e inscrições outrora ocultas, reveladas através de tomografia de raios-X de alta resolução.
Tony Freeth e seu time conseguiram sintetizar todo o trabalho de pesquisa anterior e ao mesmo tempo responder várias questões que outros cientistas ignoraram. A peça que faltava era um conjunto móvel de anéis traçando o movimento de Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno - cada um representado por uma pequena pedra preciosa - junto ao Sol, as fases da Lua e as posições das constelações do Zodíaco.
Os cálculos foram ainda mais complicados devido à antiga crença de que a Terra estava no centro do universo. Esse viés geocêntrico exigiu a invenção de modelos complexos para explicar o movimento retrógrado do sistema solar - no qual os planetas parecem se mover em voltas ocasionais para trás, uma ilusão de ótica que ocorre quando se coloca a Terra, e não o Sol, no centro do sistema solar.
Os gregos foram capazes de resolver esse fantástico feito de engenharia, criando uma máquina intricada capaz de exibir uma reprodução fiel do céu a qualquer momento. Mas, apesar dos avanços da pesquisa, ainda há muitos mistérios sobre o mecanismo que permanecem sem resposta.
Quanto à possível origem alienígena, na verdade todos os estudos apontam para o fato de que o objeto realmente é grego antigo - Inclusive a visão do universo com a Terra em seu centro. Não há dúvida sobre isso e precisamos aceitar que há muito sobre os gregos que ainda não sabemos. O mecanismo é uma janela para começarmos a entender a ciência perdida desta civilização, que há muito tempo deixou de existir.