Os perigos são naturais, mas os desastres não: entenda os fatores humanos por trás das tragédias

Os desastres naturais não são tão naturais assim, uma vez que os impactos de desastres são agravados por decisões humanas.

Em 2022, Petrópolis (RJ) registrou 245 mortos relacionados a enchentes e deslizamentos de terra após evento extremo de precipitação. Foto: Divulgação/Corpo de Bombeiros.
Em 2022, Petrópolis (RJ) registrou 245 mortos relacionados a enchentes e deslizamentos de terra após evento extremo de precipitação. Foto: Divulgação/Corpo de Bombeiros.

Muitos ainda acreditam que desastres como furacões, terremotos e enchentes são eventos naturais e inevitáveis. No entanto, especialistas destacam que as decisões humanas têm um papel fundamental na intensificação dos seus impactos.

Questões como o uso do solo, a vulnerabilidade social e as mudanças climáticas são fatores-chave que transformam eventos naturais em crises devastadoras. Conheça agora cinco razões determinantes para os desastres associados às decisões humanas.

O papel das atividades humanas na intensificação dos desastres

Eventos climáticos extremos e fenômenos geológicos ocorrem naturalmente, mas seu impacto é amplificado por decisões humanas. O desmatamento descontrolado, a ocupação de áreas de risco e a falta de infraestrutura adequada agravam os efeitos de enchentes, deslizamentos de terra e tempestades.

Roca Sales, localizada no Vale do Taquari, no Rio Grande do Sul, cresceu numa planície natural de inundação e foi devastada duas vezes em menos de um ano devido a enchentes. Créditos: reprodução/internet.
Roca Sales, localizada no Vale do Taquari, no Rio Grande do Sul, cresceu numa planície natural de inundação e foi devastada duas vezes em menos de um ano devido a enchentes. Créditos: reprodução/internet.

Por exemplo, cidades construídas em regiões propensas a alagamentos, como aquelas que se desenvolveram nas “planícies de inundação” - extensão mais baixa da bacia que se estende das margens do rio até os terraços - tornam-se altamente vulneráveis quando chuvas intensas ocorrem.

Vulnerabilidade social e desigualdade aumentam os riscos

Os desastres não atingem todas as populações de forma igual. Pessoas em situação de pobreza, vivendo em moradias precárias e com o limitado a serviços públicos, sofrem desproporcionalmente com os efeitos de eventos extremos.

Pelo menos 2.248 pessoas foram vitimadas durante o terremoto de 2021 no Haiti. Créditos: REUTERS/Ricardo Arduengo.
Pelo menos 2.248 pessoas foram vitimadas durante o terremoto de 2021 no Haiti. Créditos: REUTERS/Ricardo Arduengo.

O terremoto no Haiti em 2021 ilustra esse problema: a destruição foi agravada pela pobreza generalizada e pelas condições inadequadas de moradia.

A mudança climática como fator intensificador

As alterações no clima global estão tornando eventos extremos mais frequentes e intensos. O aumento das temperaturas oceânicas fortalece furacões, enquanto padrões de chuva irregulares provocam secas severas e enchentes catastróficas.

Rastro de destruição deixado pelo furacão Ida, nos Estados Unidos. Créditos: REUTERS/Reprodução.
Rastro de destruição deixado pelo furacão Ida, nos Estados Unidos. Créditos: REUTERS/Reprodução.

O furacão Ida, que devastou parte dos EUA em 2021, foi intensificado pelo aquecimento das águas do Oceano Atlântico, resultando em prejuízos de mais de US$ 75 bilhões.

Grupos vulneráveis são os mais afetados

A falta de o à seguridade social, emprego estável e recursos financeiros agrava os impactos de desastres. Comunidades em situação de vulnerabilidade têm menos capacidade de se preparar, reagir e se recuperar.

Foto clássica que retrata a desigualdade social em São Paulo (SP), onde a favela Paraisópolis faz divisa com prédios de luxo em bairro nobre. Créditos: Tuca Vieira/Reprodução.
Foto clássica que retrata a desigualdade social em São Paulo (SP), onde a favela Paraisópolis faz divisa com prédios de luxo em bairro nobre. Créditos: Tuca Vieira/Reprodução.

A chamada ‘justiça climática’ busca responsabilizar com equidade os países que mais contribuíram para a crise climática, especialmente para apoiar as comunidades vulneráveis que menos emitem gases de efeito estufa.

Ações humanas também podem prevenir tragédias

Se as ações humanas contribuem para a intensificação dos desastres, também podem ser usadas para preveni-los. Políticas urbanas mais responsáveis, investimentos em infraestrutura resiliente e o combate às mudanças climáticas são estratégias essenciais.

Uma das principais urgências para a adaptação das comunidades às mudanças climáticas são os sistemas de alerta precoce. Créditos: Brad Zerivitz / American Red Cross.
Uma das principais urgências para a adaptação das comunidades às mudanças climáticas são os sistemas de alerta precoce. Créditos: Brad Zerivitz / American Red Cross.

Compreender que desastres são construídos socialmente é o primeiro o para minimizar seus danos e evitar tragédias futuras.

Referência da Notícia

5 Reasons Why Disasters are Not Natural, publicado em 21 de março de 2024 por United Nations University’s Institute for Environment and Human Security (UNU-EHS).