No calendário meteorológico, já amos pelo auge do outono (20 de março a 5 de maio) e atualmente, estamos na transição para o inverno (6 de maio e 20 de junho). Tipicamente, o outono é a transição do período quente/úmido para o frio/seco na maior parte do território nacional. Durante a estação, as trovoadas da monção migram para o norte do continente, enquanto o Centro-Sul brasileiro experimenta a redução da precipitação e o aumento da amplitude térmica (noites frias e dias quentes). Mudanças bruscas nas condições do tempo são características clássicas do outono, mas elas foram pouco observadas até então.
O resfriamento gradativo da Antártica no pós-verão, tanto quanto a migração da corrente de jato para o norte, por vezes favorece surtos de ar frio na América do Sul e Brasil ao longo do outono. No fim de abril dos anos de 2016 e 2017 por exemplo, registraram-se as primeiras ondas de frio no país. Já em 2018, o frio chegou com força na segunda quinzena de maio. Entretanto, o outono 2019 está certamente decepcionando muitas pessoas, sobretudo os iradores do frio.
Anomalia da temperatura mínima e precipitação no começo de maio. pic.twitter.com/Y4egRh6n9Z
— Bruno César Capucin (@BrunoCapucin) 11 de maio de 2019
As temperaturas altas estiveram acompanhadas por chuvas em alguns estados, dando uma falsa sensação da continuidade do verão, como no Rio Grande do Sul e alguns estados do Centro-Oeste e Sudeste. Grande parte dos 3 estados sulistas tiveram temperaturas mínimas cerca de 5°C acima da média climatológica neste começo de maio. No dia 4, Curitiba teve a maior temperatura máxima e mínima em 17 anos, registrando 29°C e 18,4°C, respectivamente. Já Porto Alegre, registrou 21,4°C no dia 6. Trata-se da segunda temperatura mínima mais alta para o mês desde 1988.
Embora um El Niño fraco esteja em vigor, há indícios de que a Oscilação de Madden-Julian e a Oscilação Antártica possam ter tido um papel mais dominante nas condições observadas na América do Sul. Além disso, o predomínio de águas mais quentes no Atlântico é outro fator importante de ser considerado, uma vez que enfraquece a intensidade das massas de ar frio.
Predomínio de fluxo mais zonal entre o fim de abril e começo de maio. pic.twitter.com/bIqgFIx1QC
— Bruno César Capucin (@BrunoCapucin) 11 de maio de 2019
Em média, nas últimas semanas, distúrbios de nível superior propagados a partir do oceano Índico persistiram sobre as regiões centrais da América do Sul. Isso manteve um fluxo de noroeste a leste dos Andes (por vezes manifestado pelo jato de baixos níveis). Logo, o transporte de calor e umidade persistiu em direção as planícies centrais, onde se observou chuvas acima da média e até trovoadas severas em algumas regiões. É importante recordar que entre abril e maio, uma fase intensa da Oscilação Madden-Julian se desenvolveu entre o oceano Índico e o norte da Oceania.
As temperaturas altas no sudeste da América do Sul, intensificaram uma crista de alta pressão entre o continente e o oceano Atlântico, tornando o fluxo da corrente de jato mais zonal no lado sul da alta. Tal padrão é desfavorável à propagação de frentes frias ao norte. Outras partes do Hemisfério Sul também apresentaram anomalias positivas do vento zonal nos altos e baixos níveis da troposfera, sinalizando que o ar frio foi impedido de subir para latitudes menores. A interação complexa entre as oscilações mencionadas acima, explicam em parte as temperaturas acima da média no Centro-Sul.