No último dia 26, sábado, um ciclone extratropical se formou na costa da Argentina. A frente fria associada a este ciclone invadiu o sul do Brasil trazendo com ela uma forte massa de ar frio que derrubou as temperaturas de boa parte do país e provocou precipitação de neve e chuva congelada. Nos dias seguintes, um sistema desprendido e de baixa pressão surgiu na costa leste da América do Sul e ou a se modificar rapidamente.
Na segunda-feira (28), parte do ciclone se desprendeu formando uma área de baixa pressão entre a costa do Uruguai e a costa brasileira. A partir daí, meteorologistas de diversos centros de pesquisa e de previsão do tempo e do clima aram a perceber alterações nesse sistema.
Na noite do dia 28, a marinha do Brasil classificou o evento como ciclone subtropical. Na mesma noite, a istração Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA) emitiu um boletim classificando o sistema como uma “perturbação tropical”. No dia seguinte, manhã de terça-feira (29), a marinha do Brasil nomeou o sistema de Raoni e o MetOffice (centro de meteorologia do Reino Unido) classificou o evento como ciclone subtropical.
Ciclone subtropical se formou no início desta semana, sendo nomeado de #Raoni. O sistema persiste nos próximos dias, perdendo intensidade e não provocando alertas severos. Nas cartas da @marmilbr temos também como destaque a frente fria e a poderosa massa de ar polar (A). pic.twitter.com/88fwuqXQSP
— Tiago C. Robles (@tiagocrobles) June 30, 2021
Na manhã desta quarta-feira (30), a NOAA emitiu um novo boletim, dessa vez informando que o fenômeno está em transição para uma fase subtropical. O novo boletim informou que: "O sistema começou a transição subtropical como a convecção profunda dissipou com a tempestade acelerando para o nordeste. Os dados atuais sugerem que o núcleo ainda está quente. Este será o boletim final a menos que a análise do satélite sugira que o sistema se tornou puramente tropical na natureza".
O ciclone Raoni é um fenômeno raro, especialmente nesta época do ano. O sistema possui um núcleo quente e raso, muito mais próximo de um evento subtropical do que tropical. Porém, o boletim da NOAA afirmando se tratar de um sistema tropical provocou polêmica. Isso porque o sistema apresentou um olho, muito característico de ciclones tropicais e com muita convecção.
A NOAA chegou a colocar o ciclone Raoni com status de "INVEST" (uma classificação informando que o sistema será monitorado para coleta de dados). Apesar da convecção e do olho do sistema, Raoni tem núcleo quente, porém raso.
O ciclone #Raoni tem gerado discussões no meio meteorológico. Principalmente após o boletim da #NOAA informando que o sistema se tratava de uma perturbação tropical. No diagrama de fases, vemos que o sistema tem núcleo quente, porém raso, mais próximo de uma fase subtropical. pic.twitter.com/lmPL9CbVEM
— Davi Moura (@DaviMoura__) June 30, 2021
A classificação de sistema tropical emitido pela NOAA também gerou discussão por outro motivo: as temperaturas da superfície do mar (TSM). Sistemas tropicais se alimentam do calor dos oceanos, onde a umidade libera calor latente e o sistema cresce. Para que isso ocorra, as temperaturas da superfície do mar precisam estar maior ou igual a 27ºC. Atualmente, as temperaturas do oceano Atlântico na região de formação do Raoni são de aproximadamente 18ºC, o que impediria a alimentação de um sistema tropical.
Núcleo quente, porém raso; baixas TSMs, porém intensa convecção; Com certeza, Raoni é um sistema que deverá ser estudado nos próximos meses.
Felizmente, as previsões no momento não indicam riscos para a costa brasileira. Raoni deve se deslocar na direção nordeste chegando até as latitudes do sudoeste do Brasil e finalizando sua vida por lá.
Atualmente, não há expectativa que o sistema se regenere, caso aconteça, novas atualizações serão emitidas.
Ciclones podem ser classificados como extratropicais, subtropicais e tropicais e tudo depende da forma como estes ciclones se “alimentam” e as temperaturas no núcleo do sistema. Ciclones extratropicais se alimenta de instabilidade baroclínica (causada pela variação horizontal de temperatura nas regiões extratropicais do planeta). Ciclones extratropicais possuem um núcleo frio e profundo na troposfera.
Já os ciclones tropicais se alimentam das águas quentes do oceano e de um baixo cisalhamento do vento. Ciclones tropicais também são chamados de furacões ou tufões dependendo da região que se formam. Ao contrário dos extratropicais, os ciclones tropicais tem núcleo quente.
Já os ciclones subtropicais são híbridos e podem se alimentar tanto de instabilidade baroclínica quanto das águas quentes dos oceanos. Esses sistemas geralmente tem núcleo quente nos baixos níveis e frio nos altos níveis.